Você já ouviu falar?
O que é, sintomas e como tratar.
A saúde mental é um assunto que vem cada vez mais falado, seja no trabalho, durante uma conversa familiar ou mesmo em um encontro com os amigos. Com o crescente demanda das atividades diárias, percebeu-se que é preciso dar atenção especial à saúde psíquica. Nesse contexto, muitas pessoas tem desenvolvido e sofrido com doenças como ansiedade, depressão, crises de pânico e, às vezes, precisam tomar medicamentos contínuos para amenizar esses sintomas e levar uma vida com um pouco mais de qualidade.
Relacionada ao ambiente de trabalho, o que vem ganhando destaque nos últimos anos é a Síndrome de Burnout. Essa síndrome origina-se devido a um esgotamento mental ligado a períodos estressantes de trabalho, alta demanda de serviço, poucos colaboradores, pressão de chefe e diretores, excesso de ligações diárias etc.
Você já ouviu falar da Síndrome de Burnout?
Que tal conhecer um pouco mais sobre ela e tirar suas dúvidas?
O que é a Síndrome de Burnout?
A Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, é uma doença psíquica que surge após o indivíduo passar por situações de trabalho desgastantes, ou seja, que requerem muita responsabilidade ou até mesmo excesso de demanda e funções. Essa síndrome surge por excesso de trabalho vinculado à pressão. Alguns profissionais são mais suscetíveis a desenvolver a Síndrome de Burnout, tais como: médicos, enfermeiros, professores, policiais e jornalistas, além de profissionais que desempenhem jornada dupla ou tripla.Entre os motivos para o surgimento da Síndrome de Burnout, destacam-se os objetivos difíceis de serem alcançados impostos por chefes aos seus colaboradores também ganham destaque. Muitas vezes, o colaborador pode não ser capacitada para tal função ou já estar desempenhando outras atividades, e isso pode impedir o cumprimento de outras demandas solicitadas. A pessoa se sente, então, sobrecarregada e, ao mesmo tempo, incapaz, pois deseja realizar o que lhe é proposto, mas não tem meios para isso.O termo “Burnout” vem do inglês e é uma união de duas palavras: “burn”, que quer dizer queimar, e “out”, que significa exterior. Então, a Síndrome de Burnout pode ser caracterizada como uma queima de fora para dentro, ou seja, fatos externos que causam muita pressão no interior, na mente. Ela pode resultar em graves estados depressivos e episódios de ansiedade, por isso, como veremos no decorrer deste texto, a prevenção é muito importante.
Síndrome de Burnout e a OMS
A preocupação com a saúde psicológica dos profissionais inseridos no mercado de trabalho, seja de qual segmento for, não vem de hoje. Em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) inseriu a exaustão relacionada ao ambiente de trabalho no documento de referência de doenças utilizado pela entidade, o ICD-11. A Síndrome de Burnout se enquadra na categoria “problemas relacionados à dificuldade de gestão de vida”.
“Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do stress crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. É caracterizada por três dimensões: sentimento de exaustão ou esgotamento de energia; aumento do distanciamento mental do próprio trabalho ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; e redução da eficácia profissional.”
Essa definição já aparecia na CID-10, ou seja, a OMS já tratava com bastante atenção e importância a síndrome de Burnout. O que está mudando em relação à síndrome de Burnout da CID-10 para a CID-11 é a inclusão de uma definição mais precisa e o deslocamento da síndrome do capítulo 21 da CID-10 (sob o código Z73) para o capítulo 24 da CID-11 (agora sob o código QD85).
O capítulo 24 passa a agrupar os “fatores que influenciam o estado de saúde ou o contato com serviços de saúde “. Aqui estão exatamente aqueles quadros que, embora não possam ser classificados como doença, necessitam de tratamento e cuidado por terem o potencial de incapacitar e gerar sofrimento para as pessoas. Aproximadamente um terço dos trabalhadores formais brasileiros sofrem com a síndrome de Burnout.
Ainda de acordo com a Organização Mundial da Saúde, os problemas relacionados à saúde mental no trabalho diminuem a produtividade, resultando na perda anual de US$ 1 trilhão no mundo.
Síndrome de Burnout e o trabalhador brasileiro
Em 2016, a Escola de Economia de Londres apresentou um estudo sobre a depressão no trabalho. De acordo com o levantamento, o Brasil perde US$ 63,3 bilhões por ano devido ao afastamento do trabalho por questões de estresse e depressão, ficando em segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, onde o estresse no trabalho é um problema de saúde pública.
Ainda sobre o Brasil, a Associação Internacional de Gestão de Estresse estima que 32% dos profissionais do país sofram com o esgotamento no ambiente de trabalho. Esse valor é superior a 1/3 do total de trabalhadores, os quais podem estar próximos de um colapso ou uma depressão.
Principais causas:
As causas da síndrome de Burnout compreendem um quadro multidimensional de fatores individuais e ambientais, que estão ligadas a uma percepção de desvalorização profissional. Isso significa dizer que não se pode reduzir a causa a fatores individuais como a personalidade ou algum tipo de propensão genética. O ambiente de trabalho e as condições de realização deste podem também determinar o adoecimento ou não do sujeito.
Alguns autores afirmam que a configuração do caso de Burnout passaria por estágios que vão desde uma necessidade de autoafirmação profissional, passando por estágios comuns de intensificação da dedicação ao trabalho que, levada a consequências extremas, resultaria no esgotamento característico da síndrome. Entre outros estágios, podemos destacar o caminho que passa pelo descaso crescente com relação às atividades de cuidado de si, como comer e dormir, acompanhado por um recalque de conflitos, caracterizado pelo não enfrentamento de situações que incomodam e pela negação dos problemas. Além desses, o sujeito passa por um processo de reinterpretação que faz com que coisas importantes sejam descartadas como inúteis.
Nesse quadro, já se pode falar em uma espécie de despersonalização, uma vez que o sujeito age de formas tão distintas que se torna “outra pessoa”, marcada por sinais de depressão, desesperança e exaustão, ou seja, uma espécie de colapso físico e mental que pode ser considerado quadro de emergência médica ou psicológica.
Sintomas
A palavra síndrome designa um conjunto de sintomas, que podem ser físicos, psíquicos, de comportamento etc. No caso da síndrome de Burnout, os sintomas mais expressivos são: crescimento da fadiga constante, distúrbios de sono, dores musculares, dores de cabeça e enxaquecas, problemas gastrointestinais, respiratórios, cardiovasculares. Em mulheres, as alterações no ciclo menstrual são um sintoma físico importante. Além desses, existem sintomas psicológicos como: dificuldade de concentração, lentificação ou alteração do pensamento, sentimentos negativos sobre o viver, trabalhar e ser, impaciência, irritabilidade, baixa autoestima, desconfiança, depressão, em alguns casos paranoia.
A partir desses sintomas, o sujeito acometido pela síndrome de Burnout desenvolve comportamentos como: negligência ou perfeccionismo, agressividade nas relações cotidianas, perda da flexibilidade emocional e da capacidade de relaxar e planejar. Além disso, tende ao isolamento, à perda de interesse pelo trabalho e outras atividades.
Mas, atenção: ao sentir um ou mais sintomas listados a seguir, procure ajuda especializada. Essa síndrome evolui muito rapidamente para casos severos de depressão e ansiedade. Atente-se se você estiver sentindo:
- exaustão extrema, física e mental;
- dor de cabeça frequente;
- alterações no apetite: sentir mais ou menos fome;
- insônia;
- sentimentos de fracasso e insegurança;
- dificuldades para se concentrar;
- pensamentos negativos constantes;
- sentimentos de derrota e incompetência;
- desânimo;
- alterações de humor;
- aumento da pressão arterial;
- dores musculares;
- isolamento;
- alteração dos batimentos cardíacos;
- problemas no sistema gastrointestinal (estômago e intestino).
Como prevenir a Síndrome de Burnout?
Para prevenir a Síndrome de Burnout, você deve definir estratégias para diminuir o estresse e a pressão no trabalho. Ninguém melhor do que você para escolher o modo como vai agir ao desempenhar suas atividades profissionais visando a prevenir principalmente a saúde mental.
Como prevenir o desenvolvimento da Síndrome de Burnout:
- Quando não estiver no ambiente de trabalho, faça alguma atividade que lhe proporcione prazer, seja com os familiares, amigos ou o seu pet de estimação. Que tal um piquenique no parque ou uma ida ao cinema?
- Defina pequenas metas para sua vida profissional e pessoal, mas lembre-se de não exagerar nos objetivos, porque, caso isso aconteça, o efeito pode ser o contrário, pois você estará aumentando sua autocobrança.
- Evite estar com pessoas negativas, que eventualmente falem mal do próprio trabalho ou de outras pessoas. Tente manter o pensamento positivo. Se não conseguir pensar positivo, ao menos tente diminuir as ideias negativas.
- Converse sobre seus sentimentos. Você pode desabafar com um amigo próximo ou procurar ajuda especializada por meio de psicólogos e terapeutas.
- Não abuse de álcool, tabaco ou outras drogas ilícitas, pois elas aumentam a confusão mental e fazem parecer que a realidade é muito pior do que realmente é.
- Fuja da rotina diária. A rotina cansa e desgasta o ser humano, por isso faça atividades diferentes: vá a um restaurante novo, passeie por lugares que você gosta ou conheça novos lugares. Seja sozinho ou acompanhado, com ou sem dinheiro, busque atividades que lhe proporcionem prazer e sejam diferentes do que você faz diariamente.
- Faça atividades físicas regulares ao menos 30 minutos por dia. Pode ser uma caminhada, academia, corrida, natação, enfim, busque a que mais gosta e mantenha-se em movimento.
- Descanse de verdade. Deite e durma as 8 horas necessárias que o seu corpo e a sua mente precisam para se recuperar e iniciar uma nova jornada.
- Nunca se automedique. Se você quer diminuir o estresse ou precisa dormir melhor, busque uma avaliação médica. A automedicação pode piorar muito mais o seu estado clínico.
Fatores de risco
O grande fator de risco da Síndrome de Burnout é o estresse, pois com o passar do tempo ele pode se tornar crônico e trazer sérios problemas à saúde. Por este motivo, é muito importante estar alerta aos sintomas apresentados para, se necessário, procurar tratamento imediato. O cansaço, as dores, os lapsos de memória e os sentimentos negativos desenvolvidos por um paciente com Síndrome de Burnout não podem ser ignorados pois não melhoram com o passar do tempo, é preciso tratamento especializado.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser feito por um profissional da área da saúde mental, psiquiatra ou psicólogo, após a análise clínica do paciente. É comum as pessoas não buscarem ajuda por não saberem ou não conseguirem identificar os sintomas. A maioria das pessoas pensam ser apenas um cansaço passageiro e desconhecem a gravidade da doença.
Familiares, amigos próximos e colegas de trabalho podem ajudar a identificar a Síndrome de Burnout. No Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) oferece de forma gratuita o tratamento, por meio de consultas com profissionais da área e apoio medicamentoso.
Tratamento
O tratamento para a Síndrome de Burnout deverá ser feito por um psiquiatra ou psicólogo. Indica-se que o paciente faça psicoterapia para poder identificar a causa geradora principal da síndrome e, assim, desenvolver mecanismos para vencê-la. Em casos mais severos, são indicados antidepressivos e ansiolíticos.
Não existe um período determinado para o tratamento. Esse tempo depende das possibilidades do paciente para modificar suas condições de trabalho e seu estilo de vida.
Para auxiliar no tratamento, é indicado a prática de atividades físicas, pois elas aliviam o estresse diário, colaborando para o controle dos sintomas. Em casos de sintomas mais agravados, também é indicado a liberação do paciente ao gozo de seu período de férias.